Pamonha, pamonha, pamonha
A trajetória de Aguinaldo Alves Ribeiro também é
empolgante. Ele mora em Patos de Minas, a 417 quilômetros da capital. Aos 49
anos, se orgulha de tudo o que viveu. Tempos bons e ruins. Entre 13 irmãos, a
vida nunca foi fácil, e Aguinaldo foi o único que jogou por terra o peso da
pobreza. Só estudou até o quarto ano, pois trabalhar era a saída para
sobreviver. Sempre de olho em algum jeito de ganhar mais, foi balconista de
loja e vendedor ambulante. Chegou a montar um comércio de alho em cartela, até
que a concorrência incomodou demais. Com a ajuda de amigos comprou algumas
cabeças de gado, mas a venda do leite não justificava os custos e ele partiu
para a horticultura, com esperança renovada. Plantou repolho, beterraba e
tomate. Era o início do Plano Real e a saca de 30 quilos de repolho, que rendia
R$ 10, não demorou a cair para R$ 1,5 desandando o negócio e criando dívidas.
Em uma das idas à capital para vender a produção,
viu um vendedor de pamonhas acabar com o estoque em poucos minutos diante de
consumidores encantados. Aguinaldo Ribeiro voltou pra casa determinado a
fabricar pamonha. Com a ajuda da esposa, passou semanas tentando acertar o
tempero e o cozimento. No começo, dependia de milho terceirizado, mas dois anos
depois passou a plantar a matéria-prima na própria fazenda garantindo a
qualidade que o transformou no Rei da Pamonha na região do Triângulo Mineiro e
Alto Paranaíba. O patrimônio aumentou, levando conforto e segurança à família.
Hoje, Aguinaldo tem 45 funcionários e produz cerca de 800 pamonhas frescas de
250 gramas por dia e se orgulha da independência financeira que conquistou.
“Nunca fiz empréstimo. Tudo o que eu tenho foi com dinheiro próprio”, diz
orgulhoso. E a fama desse ex-vendedor de laranja vai longe. Ele acaba de
receber a proposta de uma grande rede de supermercados para fabricar pamonhas
com exclusividade. A oportunidade assusta, pois Aguinaldo está comprovando o
sucesso que nem ele mesmo se dava conta de ter conquistado: “Sou uma pessoa
muito simples. Quando estou no meio dos meus funcionários ninguém sabe quem sou
eu”. E para esse homem do campo, sucesso é surpreender o passado, mudando o
trajeto do menino que nasceu pobre. A próxima parada desse empreendedor?
Conhecer Nova York e colocar a Time Square junto aos cartões postais das
cidades brasileiras que ele e a família já visitaram. Mas talvez antes disso, a
pamonha do Aguinaldo chegue ao supermercado ao lado da sua casa, seja lá onde
você estiver.
Um carrinho de Pipoca
Wilson
Fernandes da Silva nasceu em família humilde, em cidade pequena e
tinha tudo para repetir esse legado, mas surpreendeu a família e a cidade. Na
infância, via a mãe fazendo milagres para alimentar os 11 filhos. Órfão de pai
desde bebê, ele ignorou tudo isso e construiu seu futuro. Dos estudos, só levou
o diploma da quarta série, e com ele nas mãos, se atirou ao trabalho. De manhã,
vendia jornais, e faturava bem, de tão simpático e ligeiro. Guardava a comissão
no bolso e ia para a feira comprar laranjas. Na parte da tarde, andava pelas
ruas vendendo as frutas. Mais dinheiro para a caixinha. E assim, Wilson
Fernandes ia cuidando da mãe doente. Depois, vieram os 11 filhos do casamento
que já dura 52 anos. Uma vida sofrida, e igual a tantas outras, mas diferente
na determinação. “Sou muito feliz e realizado. Parece que tenho uma proteção
divina. Deus me protege mesmo”, comenta sorrindo, e lembra quando foi
eletricista de uma mina e levou um choque. Ficou quatro dias em coma e só não
morreu porque Deus não quis, garante ele. Do episódio, resta o braço direito
atrofiado.
Mesmo aposentado por invalidez, não parou de
trabalhar e ainda fez mais do que a maioria das pessoas saudáveis, que somente
sonha. Ele levou os 11 filhos até a faculdade e garantiu um imóvel para cada
um. Todos moram na cidade de Nova Lima, a 20 quilômetros de Belo Horizonte.
Quando se junta aos filhos e aos 20 netos, todos saudáveis, o vovô de 74 anos
fica com os olhos cheios de lágrimas, principalmente, por saber que a missão
foi cumprida no comando de um carrinho de pipoca. Somente um e não uma frota.
Esse foi o ganha-pão do Tio Wilson, apelido carinhoso que ganhou na cidade.
Trabalhando sete dias por semana, o pipoqueiro mais famoso das redondezas
conquistou clientela fiel e exigente. Qual a receita da pipoca? Milho bem
catado, óleo de soja, uma pitada de sal e simpatia. E nas finanças, a receita é
poupar. “Eu sempre guardei 10% de tudo o que eu ganhei”, assegura. Eis a
história do homem que garantiu a educação de 11 filhos e casa própria para
todos apenas vendendo pipoca. E você ainda acha que é preciso ter uma grande
empresa para ter um grande sucesso?
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